domingo, 7 de setembro de 2008

11) BAKHTIN E A EDUCAÇÃO.

Bakhtin foi um educador. O trabalho que lhe proporcionou algum dinheiro para a sobrevivência foi o de lecionar. A proposta desta roda de conversa é pensar as principais questões da Educação a partir de possíveis aprendizados decorrentes da leitura das obras do Círculo de Bakhtin. Em termos práticos, que possíveis aplicações dos conceitos e categorias da filosofia de linguagem do Círculo poderiam se dar no campo da Educação, pensando no setor administrativo, na formação docente, na sala de aula, na relação professor-aluno, na produção de conhecimentos compartilhada e sua relação com a herança cultural promovida pela humanidade até os dias atuais.

Obs.: Utilize o link de comentários abaixo para discutir o tema dessa Roda de Conversa.

13 comentários:

Anônimo disse...

Penso que quando trazemos as reflexões propostas pelo Círculo para o campo da Educação, significa tentar compreender este campo de forma menos homogeneizadora, na qual os sujeitos (e não somente alunos ou professores) vão contrubuindo para a constituição deste campo, a cada interação que participam.

zeze disse...

Concordo com isso.Estou ministrando uma disciplina optativa sobre as contribuições do Círculo no campo da educação e detecto uma grande dificuldade de entendimento pois os alunos parecem mergulhados em discursos monológicos, em comunidade semiótica fechada e resistente (forças centrípetas e centrífugas não é mesmo?).Procuro demonstrar como o processo é epistemológico e não apenas relacional, face a face, de estímulo e resposta.Mas está difícil.

GUP disse...

A forma como venho buscando trazer as reflexões do Círculo de Bakhtin para o campo da educação faz parte do que venho escrevendo em minha tese de doutorado. Tento compreender o modo como a criança elabora conhecimentos, conceitos, mostrando que é um processo intersubjetivo e dialógico, portanto de elaboração constante de sentidos. Considero essa discussão importante porque questiona o modelo de ensino tradicional de transmissão/recepção, julgando que o aluno, no processo de ensino/aprendizagem, aprende ao assimilar (por associação, pela memória), conceitos prontos. Considero fundamentalmente que o conceito é criado pelo sujeito ao atribuir sentidos ao que vê e ouve, portanto, não há conceitos prontos.
Glaucia Uliana Pinto

zeze disse...

A sua tese vai ser muito importante para todos nós.Quero ter acesso a ela para que me auxilie nas futuras discussões.Vou tentar na próxima semana em aula provar o dialogsmo que existe na construção de uma teoria psicológica ( porque é a que se presta mais como exemplo) com os conceitos darwinistas,funcionalistas, estruturalistas,etc.Pois bem, a assimilação passiva da teoria e a sua aplicação automática a qualquer objeto (fato)impede a compreensão da produção do sentido e do processo de significação tão bem explicado pela Glaucia.Quando me perguntam a razão de crianças pequenas gostarem de repetição (músicas,contos orais,canto,cartoons)esperam uma resposta piagetiana.Não há "espaço" para a criança instituir-se como sujeito semiótico pela elaboração interna pela intersubjetividade.Nossa!Tenho que parar de me queixar.

Anônimo disse...

Ponzio diz em uma nota introdutória que ‘da semiose, da vida, enquanto animal semiótico, o ser humano é o único animal responsável. E, mais do que qualquer outro ser humano, é responsável quem por profissão se ocupa com o estudo dos signos’. Imagine a responsabilidade que nós, professores, temos em nossas mãos ao ter como fundamentação de nosso trabalho o uso de signos e a reflexão sobre eles?
Como professora alfabetizadora e pesquisadora em trabalho de doutoramento, procuro interagir dialogando com as crianças que a mim são confiadas e responder ativamente contra essa relação homogeneizadora a qual cita a Aline.

Anônimo disse...

Meu comentário saiu como anônimo...
Fabiana Giovani

Unknown disse...

Em minha tese de doutorado (Produção. leitura e compreensão do texto "Sala-de-aula"/ UNESP, 2004)li a sala de aula sob o olhar bakhtiniano e o que visualizei foi maravilhoso: um texto polifônico sendo produzido; a importância de cada um nesta produção; a necessidade do outro para minha constituição como sujeito; a importância da oralidade no espaço escolar como oportunidade de ouvir o outro e de ser aceito... O mais importante, entretanto, era o respeito presente em todos os momentos de interação (obs: era uma turma de repetentes), graças a forma como o professor conduzia/produzia/orientava essa produção textual, o respeito a história de vida de cada um, remete-nos a característica fundamental do SER, SER ÚNICO.Acredito, sem utopias, que essa é a chave para muitas portas fechadas que encontramos hoje: indisciplina, violência, desreito, pois se nós nos respeitássemos, valorizando nossa condição de ÚNICOS, respeitariamos o OUTRO. Parece simples, não!!!!! Esse é nosso maior desafio como EDUCADORES...

zeze disse...

Rita : vc não poderia tentar publicar a sua tese? O Dr. Miotello,se não me engano, tem parentes que tem editora em São Carlos.Creio que eles teriam interesse. Não custa tentar, não é mesmo ? Aqui em Cascavel-PR há uma editora que poderia publicar.Zezé.

Anônimo disse...

Zeze

Em minha defesa, a banca sugeriu que eu publicasse. Mas você sabe como é nossa realidade: você volta à Universidade, aulas, aulas, projetos, orientações... o tempo passa e quando você ministra uma palestra e fala sobre sua tese, lá vem a pergunta: por que não transformou em livro? Realmente tenho interesse, vou me organizar . Precisamos conversar...
Grata, Rita

Anônimo disse...

Olá pessoal, eu também estou analisando os dados da minha pesquisa com professores em uma perspectiva bakhtiniana. Uma dúvida bem "básica": nunca sei se devo usar o termo "enunciado" ou "discurso". A teoria bakhtiniana é também denominada "Teoria da Enunciação". Eu poderia também dizer que estou realizando uma "Análise do Discurso"?
Cida

Maria Angélica disse...

Oi, Cida
Acho que em se tratando de Bakhtin, 'enunciado' e 'enunciação' são categorias mais adequadas.
O objeto de Bakhtin, segundo eu entendo [me corrijam se eu estiver errada] é o texto [enunciado] enquanto enunciação e não exatamente o discurso.
Abraço

Nara disse...

Cida, acredito que Bakhtin não delimitou fronteiras muito precisas entre os termos enunciado e discurso. Só para citar alguns exemplos: na obra Marxismo... encontramos “O discurso citado é o discurso no discurso, a enunciação na enunciação, mas é, ao mesmo tempo, um discurso sobre o discurso, uma enunciação sobre a enunciação.” (BAKHTIN[VOLOCHINOV], 1992, p. 144). Já em Questões de literatura, temos “todo discurso concreto (enunciação[enunciado?]) encontra aquele objeto para o qual está voltado sempre, por assim dizer, já desacreditado, contestado, avaliado, envolvido por sua névoa escura ou, pelo contrário, iluminado pelos discursos de outrem que já falaram sobre ele.” (BAKHTIN, 1988, p. 86). Na obra Estética..., ele diz que “O enunciado (produção de discurso) como um todo entra em um campo inteiramente novo da comunicação discursiva [...]” (BAKHTIN, 2003e, p. 371). Além disso, temos em sua obra títulos como “O discurso em Dostoiévski”, “O discurso no romance”, “O ‘Discurso de Outrem’”... Assim, acredito que ao analisarmos um conjunto de enunciados de determinados sujeitos (professores e/ou alunos, por exemplo), considerando os aspectos da sua dimensão verbal e extraverbal (sua historicidade e os elementos de seu contexto de produção mais imediato), estamos trabalhando com o que BRAIT (2006, p. 9-31) denominou teoria/análise dialógica do discurso. Espero ter contribuído para o debate. Nara

Mônica Spegiorin disse...

Em minha dissertação de mestrado "Por uma outra Geografia Escolar: o prescrito e o realizado na atividade de ensino-aprendizagem de Geografia", utilizei os conceitos de cronotopo para analisar o espaço escolar e o de exotopia para analisar o papel do professor. Também trouxe esses conceitos para a análise do objeto de estudo da Geografia tendo em vista a leitura do espaço por meio de imagens ou de textos como uma perspectiva de construção de sentidos considerando um constante movimento dialético de acabamento-inacabamento, de diálogo com o lugar e de consequente alteridade e constituição do sujeito. Pelos comentários, me parece que temos muitos pontos de contato.