domingo, 7 de setembro de 2008

12) BAKHTIN E O HUMANISMO.

"O estenograma do pensamento humanístico é sempre o estenograma do diálogo de tipo especial: a complexa inter-relação do texto (objeto de estudo e reflexão) e do contexto (emoldurador a ser criado (que interroga, faz objeções, etc.), no qual se realiza o pensamento cognoscente e valorativo do cientista. É um encontro de dois textos – do texto pronto e do texto a ser criado, que reage; consequentemente, é o encontro de dois sujeitos, de dois autores.
(...)
O problema do texto nas ciências humanas. As ciências humanas são as ciências do homem em suaespecificidade, e não de uma coisa muda ou fenômeno natural. O homem em sua especificidade humana sempre exprime a si mesmo (fala), isto é, cria texto (ainda que potencial). Onde o homem é estudado fora do texto e independente deste, já não se trata de ciências humanas (anatomia e fisiologia do homem, etc.)"

(Mikhail Bakhtin, O Problema do Texto na Lingüística, na Filologia e em Outras Ciências Humanas)

Obs.: Utilize o link de comentários abaixo para discutir o tema dessa Roda de Conversa.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bakhtin defende a idéia de que o ser humano é irredutível a todo e qualquer esquema que o tornem uma peça do xadrez social. Sua defesa intransigente do valor da diferença que se configura em cada ser humano o fez transcender os humanismos filosóficos demasiado teóricos que enaltecem o homem e depreza os homens concretos. Muito oportuna essa roda!

Anônimo disse...

Como a roda de cultura, essa é outra na qual demorei a me atrever. No entanto, pensando como o autor do comentário anterior, e envolvida com quem - como eu - fala sobre outros humanos, pergunto: como dizer os homens concretos de modo a não torná-los objetos? Não me basta "analisar os discursos" e num balanço analítico e teórico concluir: "aqui se diz o homem enquanto homem concreto; acolá não".
Como proceder para manter o outro homem dito por mim, em meu deslocamento axiológico, ainda homem, singular, e não objeto?
Vívian, a sem senha, again...

Anônimo disse...

Bem, creio que a única situação em que os seres humanos são objeto é aquela em que deles falamos. Marília Amorim fala do texto de pesquisa como uma situação em que o pesquisador fala de outros seres humanos tomando-os como objeto de sua escrita. Logo, os homens sempre são concretos, mas podemos tomá-los como objeto de nossa fala - sem, no entanto, objetificá-los, ou seja, vê-los como não-humanos. Não vejo assim como resolver o dilema "aqui se diz o homem enquanto homem concreto; acolá não" exceto mostrando que não é um dilema, ou seja, sempre se diz "o homem enquanto homem concreto".